Esta é uma dúvida bem frequente de muitas pessoas: qual a forma correta? “Diga-me” ou “Me diga”?
Como diversos fatos da língua, a colocação de pronomes se apresenta diversificada caso se use em circunstâncias de informalidade, ou formalidade, em obediência às normas da gramática normativa.
O fato é que temos aqui uma questão de colocação pronominal.
Existem três maneiras de se por um pronome diante do verbo:
- Próclise
- Ênclise
- Mesóclise
Próclise
Próclise é quando usamos o pronome antes do verbo.
Em orações interrogativas, quando estiverem iniciando com palavras interrogativas, como “quem”, “qual”, “onde”.
Ex: ” Quem me enviou este e-mail?”
“Quando foi que te pagaram?”
Após palavras negativas (não, nem, nada, jamais, nunca…)
Ex: “A moça não se rendeu.”
“Nunca me disseram nada sobre este assunto.”
Após pronomes relativos (que, como, onde, porque, cujo, embora…)
Ex: “Trabalho para pessoas que me respeitem.”
“Assinarei a folha apenas quando me pagarem.”
Após advérbios (agora, ainda, amanhã, talvez, porventura, logo, ontem, sempre, às vezes, demais, muito, bem, mal…)
Ex: “A menina mal se movia, de tanta dor nas costas.”
” Amanhã lhe enviarão os papéis.”
“Depois nos levarão para um passeio.”
Após pronomes indefinidos (algum, alguém, tudo, todos, outro, vários, qualquer…)
Ex: “E assim, tudo se passa como eles querem.”
” Alguém se manifestou durante a reunião, mas não deram muita atenção.”
Gerúndios (verbos terminados em -ando, -endo e -indo), precedidos da preposição “em”:
Ex: “Em se tratando de organização, a secretária é autoridade no assunto.”
Ênclise
Ênclise é quando usamos o pronome depois do verbo.
Usa-se ênclise em início de frases
Ex: “Disseram-me que ele chega hoje da Europa.”
“Traga-me um copo d’água, por favor.”
Após pausas, expressas na escrita por pontuação
Ex: “Não teve remédio, declarou-se vencido e deu um bom aumento aos funcionários.”
” As horas não passavam: arrumou-se na cadeira e acabou dormindo.”
Mesóclise
E também podemos colocá-lo no meio do verbo: Falar-LHE-ei a teu respeito.
Na linguagem oral (falada), é aceitável “Me diga”, pois o importante é mantermos nosso papel comunicativo. Agora, na escrita, jamais se inicia uma frase colocando o pronome antes do verbo.
Mas e na prática, “Diga-me” ou “Me Diga”?
Coloquialmente, pode-se começar um período por pronome átono (me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes), ou seja, podemos dizer ‘Me diga isto’, e até se pode fazê-lo por escrito, quando se trata de ambiente de informalidade entre escritor e leitor. Já em circunstâncias formais, a regra é nos conformarmos com as normas gramaticais.
Regras gramaticais
- Não se inicia período por pronome átono: Diga-me isto (e não: Me diga isto); Dê-me água, me pediu (ou pediu-me) a criança (e não: Me dê água). Em ‘me pediu a criança’, não se está começando o período, mas a oração, o que está correto.
- Não se põe pronome átono depois de verbo flexionado em oração subordinada: Vejo que me olhas com desconfiança (e não: olhas-me); O livro que lhe emprestei está esgotado (e não: emprestei-lhe); O professor já saiu porque o chamaram pelo microfone (e não: chamaram-no).
- Não se coloca pronome átono depois de verbo modificado por advérbio de negação ou precedido de palavra de sentido negativo: Não te digo nada (e não: digo-te); Ninguém a viu (e não: viu-a); Nada nos interessa(e não: interessa-nos).
- Não se coloca pronome átono depois de verbo no futuro do presente e no futuro do pretérito (condicional): Eu lhe direi a verdade (e não: direi-lhe); Você lhe diria se soubesse (e não: diria-lhe).
- Não se põe pronome átono depois de verbo precedido de palavra interrogativa ou exclamativa: Quem o verá zangado? (e não: vê-lo-á); Quanto me custa dizer não! (e não: custa-me).
Lembramos que, na fala, nem sempre obedecemos a essas regras, pois a oralidade permite que tenhamos maior flexibilidade na comunicação. Porém, na escrita, o ideal é que sempre respeitemos as normas cultas do nosso idioma.